Projeto auxilia pequenos produtores de leite durante período de seca
Biomassa gerada após o processo de tratamento da água residual da indústria Marajoara vira fertilizante. Solução traz nutrientes que garantem um alto volume de pastagem mesmo durante período de estiagem
A escassez de pasto durante períodos de seca sempre foi um problema difícil de ser equacionado pelos produtores rurais. Mas em Hidrolândia, a 35 quilômetros de Goiânia, um projeto desenvolvido há cerca de um ano pela indústria de laticínio Marajoara, tem ajudado pequenos produtores de leite a manterem uma boa produtividade, mesmo em tempos de estiagem como o atual.
A empresa fornece gratuitamentes cerca 300 toneladas por mês de solução fertilizante, que é resultante do tratamento da água residual vinda dos processos fabris da indústria. “Temos uma ETE [Estação de Tratamento de Efluentes] que trata toda a água que usamos em nossas fábricas. Para esse tratamento usamos um método chamado de FLOTAÇÃO POR AR DISSOLVIDO – FAD, que por meio de um equipamento chamado de Flotador, se separa todas impurezas da água e gera uma biomassa que é rica em matéria orgânica, e em vários nutrientes importantes para o solo”, explica o gerente industrial da Marajoara, Antônio Júnior Vilela.
Há cerca de um ano e meio a Marajoara conseguiu a autorização da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semad) para oferecer aos produtores rurais de Hidrolândia essa biomassa, que surge após o processo de tratamento da água residual. O gerente industrial esclarece que o fertilizante é fornecido apenas a produtores cadastrados e homolagados no projeto. “Antes de fornecer esse adubo, foi feito um estudo técnico da análise de solo com o objetivo de avaliar a eficácia da solução fertilizante”, explica Antônio Júnior.
Sérgio Reis de Oliveira é um dos produtores beneficiados pelo projeto da Marajoara. Ele é proprietário de uma fazenda de 18 alqueires onde cria cerca de 320 cabeças de gado leiteiro e produz em média 900 litros de leite por dia. Há cerca de um ano ele recebe de três a cinco vezes por por dia em sua propriedade o caminhão pipa que aplica a solução fertilizante fornecida pela indústria de laticínio. “É muito bom, principalmente nesta época de seca ajuda muito. Onde a gente joga o fertilizante fornecido pela Marajoara fica uma folhagem alta e um pasto verdinho. Se não fosse isso, eu teria que gastar muito mais com adubação do solo e dar mais proteína para o gado, para manter uma produtividade boa”, explica Sérgio, que estima uma economia de até 50% com os gatos em adubação e suplementação alimentar para os animais.
De acordo com o produtor, o ganho na pastagem com a aplicação do fertilizante é muito significativo. “Onde você joga, depois de uma carência de 30 a 35 dias, dá para ver uma diferença bem grande no volume de pasto. De 40 a 50% a mais. E neste tempo de seca ajuda demais”, elogia.
Segundo explica o zootecnista da Marajoara, Diego Dantas Colnago, para a análise da eficácia da biomassa como fertilizante, foram feitos testes com o capim brachiaria, o mais usado na região. “Conseguimos elevar o percentual de proteína da pastagem de 8,5% para 13%”, conta Diego.
Ele explica que os nutrientes fornecidos na solução fertilizante proporcionam uma maior quantidade de forragem para o gado, o que é na verdade uma maior quantidade de comida para os animais. “Isso tem um reflexo direto na produtividade, tanto de leite quanto de carne, porque com a mesma quantidade de terra ou pasto você consegue alimentar um número maior de animais”, diz.
Ele explica que um dos elementos mais encontrados na biomassa é o nitrogênio, que está diretamente ligado ao maior crescimento do capim. “O nitrogênio, junto com o fósforo e o potássio, são o principais nutrientes necessários para o crescimento do capim do pasto”, explica.
O presidente do Grupo Marajoara, André Luiz Rodrigues Junqueira, lembra que o fertilizante é resultado do tratamento da água residual da fábrica realizado para o retorno do líquido de forma adequada ao meio ambiente, no córrego da região. O sistema de flotação adotado pela indústria para o tratamento da água residual garante um percentual de limpeza médio acima de 90%, o que é bem mais do que preconiza a atual legislação ambiental, que estabelece um índice mínimo de 60%. “Na última análise que fizemos, chegamos a um índice de 99,2%”, destaca o executivo, que também informa que o sistema foi ampliado recentemente, dobrando sua capacidade de 40 mil para 80 mil litros de água tratada por hora.
Com o processo de limpeza, uma grande quantidade de resíduos orgânicos e inorgânicos que também precisam de uma destinação adequada. “Transformamos um problema numa solução para gente e para outros. Se não fosse esse projeto em que fornecemos a biomassa residual como fertilizante para produtores rurais, teríamos um gasto muito elevado para o envio deste material a uma fazenda de compostagem. Por isso fizemos estudos e buscamos autorização junto à Semad para o fornecimento do fertilizante. É uma ação que também fortalece, de forma sustentável, a cadeia produtiva do leite”, explica o executivo.