Vinícius Junqueira*
Entender a conjuntura sobre a forte alta no preço do leite nos últimos meses é fundamental para se pensar soluções que assegurem o acesso a esse alimento tão essencial à população brasileira. De imediato, um fator que tem pressionado os preços é a lógica da velha lei da oferta e procura. Com o controle da pandemia de Covid-19, felizmente, as pessoas e empresas voltaram com força total às suas atividades e projetos que foram suspensos, mas esse movimento de retomada, embora bem-vindo, resulta numa rápida escalada do consumo.
A oferta no mercado leiteiro vem em ritmo decrescente e não é de hoje. E aí temos outro componente igualmente ou até mais importante do que o próprio consumo em si: a redução do rebanho leiteiro no país. Desde 2015, há um crescente desestímulo econômico vivido pelos produtores, mesmo entre os grandes, causado pelo aumento dos insumos para alimentação e cuidados com o gado, e ao mesmo tempo pela maior atratividade de outras atividades agrícolas, como o gado de corte, a plantação de milho e soja. Nos últimos dois anos, por exemplo, muitos produtores preferiram enviarem suas vacas para o abate e migrar para para o plantio de milho e soja, que são commodities que hoje estão com um preço muito mais alto, graças a uma forte demanda global por esses produtos.
Esse movimento de desistência, principalmente entre os pequenos e médios produtores, já começa a resultar numa concentração da produção no país, o que também impacta numa maior precificação do leite. Aliado a esse desestímulo econômico por parte dos produtores, a indústria também tem tido seus custos pressionados pelo aumento de insumos usados para o beneficiamento do leite devido a pandemia. Há, por exemplo, componentes que integram o processo industrial que chegaram a registrar um aumento de até 120% nos últimos 12 meses.
Outra dificuldade enfrentada pela indústria diz respeito à logística, que se torna ainda mais desafiadora num país de dimensões continentais como o nosso. Embora tenha arrefecido nos últimos dois meses, por mais de dois anos as frequentes altas nos preços dos combustíveis também pressionaram muito o custo final do leite.
Apresentadas as problemáticas, é preciso que governos e o próprio setor leiteiro pensem juntos soluções que não só protejam uma cadeia econômica que gera mais de 4 milhões de empregos, mas que também assegura um dos itens mais essenciais para a segurança alimentar da população.
*Vinícius Junqueira – gestor de marketing e compras da Marajoara Laticínios
Fonte: https://opopular.com.br/noticias/opiniao/opini%C3%A3o-1.952961/o-leite-e-sua-carestia-1.2518535